quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

A História da Inês de Castro



Origens


Inês de Castro era filha ilegítima de Pedro Fernandes de Castro e uma dama portuguesa, Aldonça Suárez de Valadares. O seu pai, neto por via ilegítima de Sancho IV de Castela, era um dos fidalgos mais poderosos de Castela. Inês era portanto prima em 3º grau de Pedro, cuja mãe, Beatriz de Castela, era filha de Sancho IV de Castela.




Romance com D. Pedro


Inês de Castro chegou a Portugal em 1340, integrada como aia no séquito de Constança Manuel, filha de João Manuel de Castela, um poderoso nobre descendente da Casa real Castelhana, que iria casar com o príncipe Pedro, herdeiro do trono português. O príncipe apaixonou-se por Inês pouco tempo depois, negligenciando a mulher legítima, Constança, e pondo em perigo as débeis relações com Castela.



Tentando separar Pedro e Inês, em c.1340 Constança convidou Inês como madrinha do seu primeiro filho varão, o infante Luís, já que, de acordo com os preceitos da Igreja Católica de então, uma relação entre um dos padrinhos e um dos pais do baptizando era quase incestuosa. A criança não sobreviveu um ano, o que fez aumentar as desconfianças em relação a Inês de Castro.



Sendo o romance adúltero vivido às claras, o rei Afonso IV (que havia promulgado leis contra este tipo de situações) manda exilar Inês no Castelo de Albuquerque, na fronteira espanhola, em 1344. No entanto, a distância não apagou o amor entre os dois apaixonados e, segundo a lenda, continuavam a corresponder-se com frequência.



Em Outubro do ano seguinte, Constança morreu ao dar à luz o futuro Fernando I de Portugal, deixando Pedro viúvo e um homem livre. Inês volta do exílio e os dois foram viver juntos para longe da corte, tendo tido quatro filhos: Afonso (morto em criança), João, Dinis e Beatriz.



Afonso IV tentou por diversas vezes organizar um terceiro casamento para o seu filho, com princesa de sangue real, mas Pedro recusou tomar outra mulher que não Inês. O velho rei receava a influência da família de Inês, os poderosos Castro, no seu filho e herdeiro; além disso, o único filho varão de Pedro e Constança Manuel, Fernando, era uma criança frágil, e crescia a insegurança em relação à sua vida para que um dos saudáveis filhos de Inês de Castro pudesse ocupar o trono. A nobreza portuguesa também começava a inquietar-se com a crescente influência castelhana sobre o futuro rei.


Súplica de Inês de Castro
Assassinato de D. Inês
O rei Afonso IV decidiu então que a melhor solução seria eliminar Inês. Depois de alguns anos no Norte, Pedro e Inês haviam regressado a Coimbra e se instalado no Paço de Santa Clara.



A 7 de Janeiro de 1355, o rei cedeu às pressões dos seus conselheiros e, aproveitando a ausência de Pedro numa excursão de caça, enviou Pêro Coelho, Álvaro Gonçalves e Diogo Lopes Pacheco para executar Inês. Os três se dirigiram ao Mosteiro de Santa Clara em Coimbra, onde Inês se encontrava, e degolaram-na. Tal facto, segundo a lenda, teria originado a cor avermelhada das águas que correm nesse local da Quinta das Lágrimas.



A morte de Inês fez com que Pedro se revoltasse contra Afonso IV, que responsabilizou pela morte, e provocou uma sangrenta guerra civil. A rainha Beatriz interveio e, após meses de luta, a paz foi selada em Agosto de 1355.
Rainha póstuma


A história de Inês de Castro em rótulo de cigarro.


Pedro se tornou o oitavo rei de Portugal em 1357. Em Junho de 1360, faz a famosa declaração de Cantanhede, legitimando os filhos ao afirmar que havia se casado secretamente com Inês, em 1354 "em dia que não se lembrava". As palavras do rei e de seu capelão foram as únicas provas desse casamento.



O novo rei perseguiu os assassinos de Inês, que tinham fugido para Castela. Pêro Coelho e Álvaro Gonçalves foram apanhados e executados (segundo a lenda, o Rei mandou arrancar o coração de um pelo peito e o do outro, pelas costas, e assistiu à execução enquanto se banqueteava). Diogo Lopes Pacheco conseguiu escapar para a França. Mais tarde foi perdoado pelo rei no seu leito de morte.
Pedro mandou construir dois esplêndidos túmulos - os túmulos de D. Pedro I e de Inês de Castro - no mosteiro de Alcobaça, um para si e outro para onde trasladou os restos de sua amada Inês. A tétrica cerimónia do beija mão, tão vívida no imaginário popular, provavelmente foi inserida nas narrativas do final do século XVI, depois de Camões descrever, no Canto III d'Os Lusíadas, a tragédia da linda Inês, fazendo referência à "mísera e mesquinha, que depois de ser morta foi rainha". Pedro juntou-se a Inês em 1367 e os restos de ambos jazem juntos até hoje, frente a frente, para que, segundo a lenda "possam olhar-se nos olhos quando despertarem no dia do juízo final".



D. Inês na Literatura


Detalhe do túmulo de D. Inês no mosteiro de Alcobaça


O tema deste trágico amor continua , claramente, a apaixonar gentes de todos os tempos:
· A primeira aparição dos amores de D. Inês na literatura dá-se com as Trovas à Morte de Inês de Castro, de Garcia de Resende, no Cancioneiro Geral de 1516;
· A tragédia foi também representada entre o povo, com o teatro de cordel;
· Mas é com Os Lusíadas, de Camões, que se constitui o mais influente fundo lírico do episódio de D. Inês de Castro, a "linda Inês", tal como surge no Canto III;
· A tragédia A Castro (1587), a primeira tragédia clássica portuguesa, de António Ferreira, foi baseada na sua vida;
· Bocage dedicou-lhe uma cantata;
· Foi com o Romantismo em Portugal que aumentou o interesse pelos factos históricos associados ao episódio;Alexandre Herculano e Oliveira Martins, entre outros, procuraram investigar, com algum rigor, as pessoas e factos históricos;
· Os amores de D. Inês popularizaram-se na literatura erudita, entre outros com os árcades Manuel de Figueiredo e Reis Quita;
· Em 1986, Agustina Bessa-Luís (1922-) publicou as Adivinhas de Pedro e Inês;
· Outros autores, tais como Luís Rosa e João Aguiar, publicaram livros sobre a trágica vida de Inês de Castro (O Amor infinito de Pedro e Inês e Inês de Portugal, respectivamente);
· Em 2005, ano do 650o. Aniversário da morte de D.Inês de Castro, [Guilherme Manuel de Souza Girão] escreveu um livro"Souza Girão e Valle na descendência de D. Pedro e D. Inês de Castro", com 2a. Edição em 2007.

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